30 novembro 2007
Sob Medida
Erga as mãos para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
Sou igual a você
eu nasci pra você
Eu não presto
eu não presto
Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua
Costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agradeça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece
(Chico Buarque)
09 novembro 2007
TERESA
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
(Manuel Bandeira)
06 novembro 2007
na intolerância do teu ouvido
Teria reparado
no teu receio.
Naquele gol urgente,
No meu abraço solitário.
Teria reparado
no que é merecido?
ou teria reparado
Nesse que não te espera.
E te quer moldada
sem saber quem és.
Teria você reparado?
no cristal quebrado
desse nosso fado.
Naquele cadeado
que fechava antes do motor ligado.
fechava...
20 outubro 2007
Coroné Antonio Bento
No dia do casamento
Da sua filha Juliana,
Ele não quis sanfoneiro
Foi pro Rio de Janeiro
Convidou Bené Nunes pra tocar.
O lê, rê, ô lá rá
Nesse dia bodocó
Faltou pouco pra virar.
E todo mundo que mora por ali
Nesse dia não pode arresistir
Quando ouvia o toque do piano
Rebolava, saia requebrando
Até Zé Macacheira que era o noivo
Dançou a noite inteira sem parar.
Que é costume de todos que se casam
Ficar doido pra festa se acabar.
( Luiz Wanderley / João do Vale )
09 outubro 2007
difícil
lenda te enxergar.
Aéreo. não volta.
Incorpora teus delírios.
auto-elogio.
que vantagem ?
Esse rei aí, aquela diva também,
na europa, nos EUA....
"Já veio aqui em casa, trabalhou pra mim..."
Vai pra lá, vai pra cá.
Não sai mais do lugar.
Diz que tá construindo um palácio dourado.
Não caberá dentro dele...
Não cabe mais dentro disso.
02 outubro 2007
05 setembro 2007
28 agosto 2007
teu aperreio
não sabe de onde vem o vazio.
Compras teus brinquedos,
não tem descanso da agonia.
Teus sonhos realizados
e desejos atendidos
só te falam que tu podes
ou que alívio não existe.
O que tá dentro
testemunha tua existência
mas não te conhece.
A paz que te falta
não virá de fora.
certeza só terás do fim.
24 agosto 2007
20 agosto 2007
As vezes eu acordo e penso em como vou sobreviver, ganhar dinheiro, independência, etc... só que daí eu acho o monstro muito grande, me dá uma profunda preguiça, eu encarno a inconsequência e desisto. Quando eu não penso, eu faço. Um dia, fazendo sem pensar eu acabo ficando adulto no mundo capitalista. Pensar com o vislumbre de como anda o planeta é desanimador, desesperador e me dá essa culpa de me achar covarde. Tem uma cabeça que me ajuda, é privilegiada e é oque me faz ter tudo que tenho, inclusive você. Tem uma outra que é minha inimiga, me pára. Se eu mato ela, viro bicho, se eu não mato, fico prisioneiro... Fujo, sem pensar. Só assim consigo agir.
08 agosto 2007
Comunidade
outro de uma casa; primeiro veio um e pôs-se
junto à entrada, depois veio, ou melhor dito,
deslizou-se tão ligeiramente como se desliza uma
bolinha de mercúrio, o segundo e se pôs não
distante do primeiro, depois o terceiro, depois o
quarto, depois o quinto. Finalmente, estávamos
todos de pé, em uma linha. A gente fixou-se em
nós e assinalando-nos, dizia: os cinco acabam de
sair dessa casa. A partir dessa época vivemos
juntos, e teríamos uma existência pacífica se um
sexto não viesse sempre intrometer-se. Não nos
faz nada, mas nos incomoda, o que já é bastante;
porque se introduz por fôrça ali onde não é
querido? Não o conhecemos e não queremos
aceitá-lo. Nós cinco tampouco nos conhecíamos
antes e, se quer, tampouco nos conhecemos agora,
mas aquilo que entre nós cinco é possível e
tolerado, não é nem possível nem tolerado com
respeito àquele sexto.
Além do mais somos cinco e não queremos ser seis.
E que sentido, sobretudo, pode ter esta
convivência permanente, se entre nós cinco
tampouco tem sentido, mas nós estamos já juntos e
continuamos juntos, mas não queremos uma nova
união, exatamente em razão de nossas
experiências. Mas, como ensinar tudo isto ao
sexto, posto que longas explicações implicariam
já em uma aceitação de nosso círculo? É
preferível não explicar nada e não o aceitar. Por
muito que franza os lábios, afastamo-lo,
empurrando-o com o cotovelo, mas por mais que o
façamos, volta outra vez.
(Franz Kafka)
03 agosto 2007
02 agosto 2007
Por tu auscencia estoy
Solo la penumbra
me acompana hoy
Perdido tu amor no podre
disfrutar de felicidad
Sin destino fijo,
como el humo voy
surcando el espacio
buscandote estoy
Tal vez no encuentre
Quiza te perdi
Para siempre, amor
Recordare
Tu mirar, tu sentir
No lo puedo evitar
Y sufrire
Anorando el ayer
No te puedo olvidar
Herido de sombras
Por tu auscencia estoy
Solo la penumbra
Me acompana hoy
Perdido tu amor
no podre ser feliz
Jamas
(Rolando Vergara)
31 julho 2007
29 julho 2007
parte 1
Não te quis
Casei com uma rainha.
Você, com meu escudeiro.
Depois, nos seduzimos na calçada
por um triz
negamos a existência daquilo
mas não foi tão passageiro.
Por anos divimos os ombros
um chamariz
A vezes no fim da noite
aquele beijo matreiro
27 julho 2007
mas sem antecedentes.
Desconhecido aos olhos dos mais próximos,
Faria amigos parecidos, mas os faria diferentes
nessa amizade.
Encontraria um amor bem amado e, tentando puxar
conversa, perguntaria "qual é seu nome?"
Convidaria meus melhores amigos para nossa
primeira cerveja, nossa primeira discussão.
E queria que tudo que fizesse fosse leve de flutuar.
E que o amor que desprezei me incendiasse sem
querer e me dissesse que eu tô viajando.
E que dessa desilusão derramasse vento forte e
tempestade e mais nada que dure mais de uma
semana.
Usaria menos a pontuação.
Faria uma costura bem feita de onde achei que o
peso rebentou até o decolar do novo leve.
E daí começa o esquecimento dos históricos, que
quem é que precisa?
Deixaria a forma como fosse e a cor que quizesse.
A notas se tocariam e a dinâmica nunca foi minha
mesmo.
Acho que eu queria isso.
(Paulinho Gomes Junqueira - 14/01/05)
fim de uma carta velha
Hoje deve estar meio difícil de entender oque eu
falo... estou com o chakra da verdade confusa todo
arrombado mas ao mesmo tempo a verborragia me
domina, era um bom dia pra ir na aula de
linguística.
outra coisa é que estou afim de fazer teatro, ou
ficar rico, ou me isolar em algum ponto da bahia e
virar pescador, ou ir no jogo do corinthias xingar
o juiz, ou me apaixonar sem querer, ou um boquete
sem amor (não seu), ou só um banho de água de côco...
Crise?
Acho que te vejo logo
beijo
(verão 2005)
26 julho 2007
Ou Carnaval 05?
como desgastei o tato...
eu não sabia de você tão só.
oque se passou com a gente?
aquilo era fogo de ciúme,
ou fiquei com medo de ser pouco.
desculpa te apagar.
busco muito do que não quis nem rastro.
Era mar ou era cerveja no sol?
ou não entendi, ou tento,
ou hoje eu que me apago.
Tava te buscando nas gavetas.
agora há pouco.
era aquele dia ou eu não queria?
Tão linda naquele tempo,
ou eu não vi.
Nossa língua atravessada na briga.
Desculpa mesmo te apagar.
Ou é só esse tal tempo da vida?
sempre é insuficiente,
ou não é tempo de encontro.
Duvidei que te choraria
E mais uma vez você venceu.
Hoje é sem desespero? só melancolia?
ou lamento muito ter que te apagar...
aos poucos.
Nem sei se queria me desculpar
ou as gafes desfazer...
Seria eu hoje não fosse esse passado?
Ou ainda espero receber,
ou ainda tenho a pagar.
25 julho 2007
Dia 36
Lenço azul a apertar em branco o seu pensar
Toda uma vida embaça o seu olhar
E andando, vê passando
Tudo aquilo que errou
Hoje é dia 26,
Quem sabe vive outra vez
Ela se foi sem eu ver
Um beijo a flutuar
Cabelos rosas, gente a se abraçar
Tudo alegre, indo e vindo
Tudo em volta a brilhar
Esquece, não pensa mais
Um grito ele amou
Lençóis e colchas vão se encontrar
Não é mais dia 26
Tudo começa outra vez
1, 2, 3, 26
Tudo isso já ficou
A paz é forte e ele vai viver
A menina em frente, quente
O amor a faz girar
Hoje é dia 36
Um grito ele amou
Lençóis e colchas vão se encontrar
Não é mais dia 36
Tudo começa outra vez
Esquece, não pensa mais!
Esquece, não pensa mais!
(Mutantes & Johnny Dandurand)
24 julho 2007
colecionador de silêncios
O álcool de ontens
algo não me deixa começar.
Da cama que fiz de útero
não queria nascer hoje.
Sinto que sempre fui
Mais esse do que o outro.
muito amante, nunca sucesso
Amador, inconstante
dado ao excesso.
sem planejar a carreira
ou lastro na suiça
mas colecionador de silêncios
Sou nervos de atropelado
Sou lágrimas muito raras
23 julho 2007
Como foi?
De seus ungüentos falsificados.
Joguei teu nome no mal dizer
Na língua de pessoas piores que você
maltratei oque ainda era esperança.
Estuprei nossas melhores lembranças
Sem pudor, cuspi em cima
Dividi com o vagabundo da esquina
Comparei isso tudo ao que há de pior
Não notei diferença relevante.
O jornal continua o mesmo, farsante.
E a memória aguda, engavetada.
não me deixa fazer nem faz.
Nasci de novo mas dessa vez
alguma coisa não veio mais.
21 julho 2007
Av. Dr. Arnaldo 666
E nem o samba puder me consolar,
Da nossa história malfadada,
Não quero ter que me lembrar.
Eu não vou ficar me lamentando,
Das tuas promessas tão cínicas.
Espero já te encontrar morando
bem em frente ao hospital da clínicas
O endereço é bem arborizado,
E a vizinhança não vai reclamar.
O veneno que você traz guardado,
Não vai ter mais com quem usar.
Essa linda e perpétua morada,
Tua residência pra sempre será.
Serei feliz ao te ver sepultada,
No Cemitério do Araça.
20 julho 2007
samba do vôo 3054
que tristeza você não embarcar
Se tivesse me avisado, eu teria até pagado
um taxi pra você não se atrasar.
Fiquei entusiasmado com a notícia.
O meu calvário teria se acabado
Mas quando não vi o seu nome na lista
fiquei muito decepcionado.
O intinerário era feito pra você
seria o fim dessa existência vã
porque você foi perder
o vôo 3054 da Tam?
18/07/2007
19 julho 2007
16 julho 2007
A Espada de Ouro
Henrique Duffles Teixeira Lott,
A espada de ouro que, por escote,
Os seus cupinchas lhe vão brindar,
Não vale nada (não leve a mal
Que assim lhe fale) se comparada
Com a velha espada
De aço forjada,
Como as demais.
Espadas estas
Que a Pátria pobre, de mãos honestas,
Dá a seus soldados e generais.
Seu aço limpo vem das raízes
Batalhadoras da nossa história:
Aço que fala dos que, felizes,
Tombaram puros no chão da glória!
O ouro da outra é ouro tirado,
Ouro raspado
Pelas mãos sujas da pelegada
Do bolso gordo dos salafrários
Do bolso raso dos operários.
É ouro sinistro,
Ouro mareado:
Mancha o Ministro,
Mancha o Soldado.
(Manuel Bandeira)
12 julho 2007
11 julho 2007
dia branco,
de meias.
bolo de fubá.
nevou em Buenos Aires...
em São Paulo, não há clima.
fadiga das contas
datas, cedos.
estariamos nós fundando uma nova escola literária?
onde?
no futuro eles inventam as fronteiras.
ao diabo com os papéis.
Ontem, meu avô que eu não conheci veio me visitar.
Falou algumas marcantes... pontuais.
Eu era um molequinho quando entrei.
A casa estava cheia de velas.
Saí bem mais velho do que sempre fui.
Trace um plano,
dizia ele...
Trace um plano só pra você.
10 julho 2007
Jorro nº2
Eu abro os olhos e fico no limbo alguns segundos e logo depois isso chega pesando. Normalmente é a mesma falta que senti na hora de dormir... só que na noite tem aquela brecha do dia seguinte, aquele "amanhã eu venço..."
Essa falta que tenho vivido nas manhãs é impossibilitante, fode o juizo, não me deixa nascer. "Poxa! o mundo não acabou e eu tenho que levantar."
Me dói pensar em ontem, nos ontens, solitário nas multidões, espalhando alguma esperança nos comparças mas sabendo, no fundo, que não há remédio.
As vezes me distraio e até gozo algum festejo, no mais eu continuo martelando o mesmo prego torto no fundo do meu crânio.
Hoje em dia vamos aos bares mais arrumadinhos, reclamamos da cerveja de lata que custa quatro, cinco, seis reais... Reclamamos mas agora bebemos... e podemos pedir uma porção de calabreza mas temos cuidados com a saúde, temos preocupações dos quase trinta e continuamos com grandes projetos a realizar... ainda grandes...
E ninguém da minha mesa conhecia a expressão "zuou o plantão".
E o dinheiro? ah! o dinheiro!
E o tempo? oh! o tempo.
A apatia não tem sido praticada mas as vezes acho que não faz diferença nenhuma além daquele "ele tá melhor agora, tem saído".
O fato é que levantei e estou escrevendo esse texto (oque também não faz diferença) e logo vou pro meu piano - patrimônio único - com meu café triste continuando essa monótona sequência de mortes e vidas que nem sempre se intercalam.
Tem uns artistas que jorram arte pelo ladrão inevitavelmente e até por necessidade, sem querer querendo... inveja.
E o texto foi completamente pra outro lado sem nenhuma técnica ou preparação. Falhas várias...
Eu tenho que parir minha arte por um oríficio minúsculo pra algum remediado matar.
Nem poeta eu fui.
Quando escrevo em verso, proseio.
Tentando prosear, solto os versos.
05 julho 2007
03 julho 2007
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Carlos Drummond de Andrade
29 junho 2007
25 junho 2007
Valsa
Um futuro distante
provavelmente morte.
Cedo ou tarde
Vaio esse amor,
Te nego.
Nêgo véio que é sabido
não desatina
e te olha de cima
Da ladeira, escada rolante
Rolante...
Morro abaixo morro disso.
Mas morro de sim
E vou nascendo,
Não morras de não.
Um beijo no coração
Nas coxas não.
Vamos ao possível...
Me visto de sucesso,
Faço meu solo.
Você abala.
Um dia desmorona
Quem sabe?
nasces de sim...
(Pedro)
23 junho 2007
Castles made of sand
As she slams the door in his drunken face,
And now he stands outside and all the neighbours start to gossip and drool.
He cries "Oh girl, you must be mad,
What happened to the sweet love you and me had?"
Against the door he leans and starts a scene,
And his tears fall and burn the garden green.
And so castles made of sand, fall in the sea, eventually.
A little Indian brave who before he was ten, played war games in
the woods with his Indian friends, and he built a dream that when he
grew up, he would be a fearless warrior Indian Chief.
Many moons passed and more the dream grew strong, until tomorrow
He would sing his first war song,
And fight his first battle, but something went wrong,
Suprise attack killed him in his sleep that night
And so castles made of sand, melts into the sea eventually.
There was a young girl, whose heart was a frown,
Because she was crippled for life, and couldn't speak a sound
And she wished and prayed she would stop living, so she decided to die.
She drew her wheel chair to the edge of the shore, and to her legs she smiled
"You won't hurt me no more."
But then a sight she'd never seen made her jump and say:
"Look, a golden winged ship is passing my way"
And it really didn't have to stop...it just kept on going.
And so castles made of sand slips into the sea,
Eventually
(Jimi Hendrix)
18 junho 2007
Semana dos namorados - Até logo
Will be to arrive where we started
And know the place for the first time"
---------------------------------------
"O final de nossa jornada
Será chegar onde começamos
E conhecer o lugar pela primeira vez."
(T.S. Elliot)
17 junho 2007
Semana dos namorados - Domingo
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Poemas de antes IV
Reduzi cada desilusão
ao carácter inofensivo do aprendizado.
Por isso não choro
ando sem desejo...
mas sem imunidade.
(Pedro Gonçalves - convés - 01/01/05)
poemas de antes III
me torna menos interessante,
Querer-te muito
me faz disponível e entediante,
Devo evitar ser sincero.
Fazer que não quero,
que não me esmero.
Te deixar insegura
pra me sentir importante.
Mas se à tu que eu amo
não te farei mal.
Direi a verdade,
mesmo que não ouça.
Se tu só gosta do difícil,
já não tenho a menor graça.
Lamento.
Vou por aí.
(Gonzalito moleque - 07/07/2000)
16 junho 2007
Semana dos namorados - Sábado
Perante Obatalá, Ogum havia condenado a si mesmo
a trabalhar duro na forja para sempre.
Mas ele estava cansado da cidade e da sua profissão.
Queria voltar a viver na floresta,
voltar a ser o livre caçador que fora antes.
Ogum achava-se muito poderoso,
sentia que nenhum orixá poderia obrigá-lo a fazer oque não quisesse.
Ogum estava cansado do trabalho de ferreiro
e partiu para a floresta, abandonando tudo.
Logo que os orixás souberam da fuga de ogum,
foram ao seu encalço para convencê-lo a voltar a cidade e à forja,
pois ninguém podia ficar sem os artigos de ferro de ogum,
as armas, os utensílios, as ferramentas agrícolas.
Mas Ogum não ouvia ninguém, queria ficar no mato.
Simplesmente os enxotava da floresta com violência.
Todos foram lá, menos Xangô.
E como estava previsto, sem os ferros de Ogum,
O mundo começou a ir mal.
Sem os instrumentos para plantar, as colheitas escesseavam
e a humanidade já passava fome.
Foi quando uma bela e frágil jovem veio à assembléia dos orixás
e ofereceu-se a convencer Ogum a voltar à forja.
Era Oxum a bela e jovem voluntária.
Os outros orixás escarnearam dela,
tão jovem, tão bela, tão frágil.
Ela seria escorraçada por Ogum
e até temiam por ela, pois Ogum era violento,
poderia machucá-la, até matá-la.
Mas Oxum insistiu, disse que tinha poderes
de que os demais nem suspeitavam.
Obatalá, que tudo escuta mudo,
levantou a mão e impôs o silêncio.
Oxum o convencera, ela podia ir a floresta e tentar.
Assim, Oxum entrou no mato
e se aproximou do sítio onde Ogum costumava acampar.
Usava ela tão-somente cinco lenços trasparentes
presos à cintura em laços, como esvoaçante saia.
Os cabelos soltos, os pés descalços,
Oxum dançava como o vento
e seu corpo desprendia um perfume arrebatador.
Ogum foi imediatamente atraído,
irremediavelmente conquistado pela visão maravilhosa,
mas se manteve distante.
Ficou a espreita atrás dos arbustos, absorto.
De lá admirava Oxum embevecido.
Oxum o via, mas fazia de conta que não
O tempo todo ela dançava e se aproximava dele
mas fingia sempre que não dera por sua presença.
A dança e o vento faziam flutuar os cinco lenços na cintura,
deixando ver por segundos a carne irresistível de Oxum.
Ela dançava, o enlouquecia.
Dele se aproximava e com seus dedos sedutores
lambuzava de mel nos lábios de Ogum.
Ele estava como que em transe.
E ela o atraía para si e ia caminhando pela mata,
sutilmente tomando a direção da cidade.
Mais dança, mais mel, mais sedução,
Ogum não se dava conta do estratagema da dançarina.
Ela ia na frente, ele acompanhava inebriado,
louco de tesão.
Quando Ogum se deu conta,
eis que se necontravam ambos na praça da cidade.
Os orixás todos estavam lá
e aclamavam o casal em sua dança de amor.
Ogum estava na cidade, Ogum voltara!
Temendo ser tomado com fraco,
enganado pela sedução de uma mulher bonita,
Ogum deu a entender que voltara por gosto e vontade própria.
E nunca mais abandonaria a cidade.
E nunca mais abandonaria sua forja.
E os orixás aplaudiam e aplaudiam a dança de Oxum.
Ogum voltou à forja e os homens voltaram a usar seus utensílios
e houve plantações e colheitas
e a fartura baniu a fome espantou a morte.
Oxum salvara a humanidade com sua dança do amor.
(fonte: Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi)
15 junho 2007
Semana dos namorados - sexta-feira
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o amor antigo, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
(Carlos Drummond de Andrade)
Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.
(Fernando Pessoa, 1911)
Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras, ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser ridículas.
Mas, afinal, só as criaturas que nunca
escreveram cartas de amor é que são ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso cartas de amor ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor é que são ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas, como os sentimentos esdrúxulos,
são naturalmente ridículas.)
(Álvaro de Campos)
14 junho 2007
Semana dos namorados - quinta-feira
Na véspera de nada ninguém me visitou.
Olhei atento a estrada durante todo o dia
Mas ninguém vinha ou via, ninguém aqui chegou.
Mas talvez não chegar
Queira dizer que há
Outra estrada que achar,
Certa estrada que está,
Como quando da festa
Se esquece quem lá está.
(Fernando Pessoa)
Receita para não engordar sem necessidade de ingerir arroz integral e chá de Jasmim
Pratique o amor integral
uma vez por dia
desde a aurora matinal
até a hora em que o mocho espia.
Não perca um minuto só
neste regime sensacional.
Pois a vida é um sonho e, se tudo é pó,
(Carlos Drummond de Andrade)
13 junho 2007
Semana dos namorados - quarta-feira
Balada do amor através das idades
Eu te gosto, você me gosta
desde tempos imemoriais.
Eu era grego, você troiana,
troiana mas não Helena.
Saí do cavalo de pau
para matar seu irmão.
Matei, brigamos, morremos.
Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.
Depois fui pirata mouro,
flagelo da Tripolitânia.
Toquei fogo na fragata
onde você se escondia
da fúria de meu bergantim.
Mas quando ia te pegar
e te fazer minha escrava,
você fez o sinal-da-cruz
e rasgou o peito a punhal...
Me suicidei também.
Depois (tempos mais amenos)
fui cortesão de Versailles
espirituoso e devasso,
Você cismou de ser freira...
Pulei muro de convento
mas complicações políticas
nos levaram à guilhotina.
Hoje sou moço moderno,
remo, pulo, danço, boxo,
tenho dinheiro no banco.
Você é uma loura notável,
boxa, dança, pula, rema.
Seu pai é que não faz gosto.
Mas depois de mil peripécias,
eu, herói da Paramount,
te abraço, beijo e casamos.
(Carlos Drummond de Andrade)
Sem
Tanto faz.
De qualquer modo me sinto.
Quando a cabeça é pesada
você que me deita no chão.
Quando te ouço calada
sei que não falei sozinho.
Te encontro sempre nesse
samba marcado de resignação.
E me encontras nessa
eterna surpreendente compreensão.
Te faço o cafuné
E o sonho, tanto faz.
expectativas: já basta
Sinto nesse afagar-te
tua mão na minha cabeça.
Cafunezado estou também.
Ou me acho.
acredito onde duvidas.
E deixo mas te provo.
Sabes que falo sério
sempre e anteontem.
e não deixo morrer tão cedo.
Cedinho que quero
pão de queijo na tua aurora.
coisas de casal.
Também adaga de amantes.
Também choro na madrugada.
Aquele frio abdominal.
Exageros,
provas de amor a toda hora.
Inclua isso também.
Cafuné você me faz
Eu te faço...
Tanto faz.
(Pedro Gonçalves)
Verso II - O encontro dos opostos
quando conhecemos o feio.
Só temos consciência do bom,
Quando conhecemos o mau.
O grande e o pequeno são complementares.
O alto e o baixo formam um todo
O tom e o som se harmonizam.
O antes e o depois seguem-se um ao outro.
O passado e o futuro geram o tempo.
O longo e o curto se delimitam
O ser e o não ser geram-se mutuamente.
O sábio executa sua tarefa sem agir.
O sábio tudo realiza - e nada considera seu.
O sábio tudo faz e não se apega à sua obra."
...
(Lao Tzu - Tao Te King)
12 junho 2007
Semana dos Namorados - terça-feira
O dia dos namorados
pra mim é todo dia.
Não tenho dias marcados
pra te amar noite e dia.
O dia 12 de junho,
como qualquer outro, diz
(e disso sou testemunho)
que contigo sou feliz.
(Carlos Drummond de Andrade)
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta
listada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
(Manuel Bandeira)
11 junho 2007
Semana dos namorados - segunda-feira
Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como oque era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos pra sempre.
Deixaram de existir mas o existido
continua a doer eternamente.
(Carlos Drummond de Andrade)
Semana dos Namorados - Introdução
Deixe a gratidão de lado:
O que que amor tem que ver
Com gratidão, menino,
Que bobagem é essa?
(...)
Sem alma, cruel, cretino,
Descarado, filho da mãe,
O amor é um rock
E a personalidade dele é um pagode.
(Tom Zé - estudando o pagode)
09 junho 2007
Ditirambo
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade
(Oswald de Andrade)
no big deal
DOESN'T NEED A BLUE LAGOON STANDING BY
NO MONTH OF MAY, NO TWINKLING STARS
NO HIDEAWAY
NO SOFT GUITARS
DOESN'T NEED A CASTLE RISING IN SPAIN
NOR A DANCE TO A CONSTANTLY SURPRISING REFRAIN
(Rodgers/Hart - recortado)
02 junho 2007
Peito Vazio
Foge-me a inspiração, sinto a alma deserta.
Um vazio se faz em meu peito
e de fato eu sinto em meu peito um vazio.
Me faltando as tuas carícias,
as noites são longas e eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool a tua lembrança
Mas noto que é ridícula a minha vingança
Vou seguir os conselhos de amigos
E garanto que não beberei nunca mais
E com o tempo essa imensa saudade que sinto se esvai.
(Cartola e Elton de Medeiros)
30 maio 2007
Noite ilustrada
Até tentei engolir,
todos olharam.
não viram.
pena não quis,
nem lamentava.
Ali onde chorei, ninguém mais chorava.
Dar a volta que não dei, qualquer um dava.
Um homem de fé.
Se sabe só, no chão, de pé.
Quer logo que a mulher
lhe dê o braço, a boca, a testa.
Reconhece-se grão,
e não desatina.
Na poeira sacodida que só vai,
a volta impossível é bem mais embaixo.
22 maio 2007
Poemas de antes II
É o nome que deve ser dado.
Uma coisa que não se sabe...
mas está flagrante no investigar.
Isso mais do que isso.
Só não digo que é isso tudo
Porque não sei bem direito oque é isso.
Se não estivesse aqui
eu não chamaria de isso.
E se eu soubesse mais,
chamaria de outros nomes.
Mas vou chamar de isso.
Porque é só isso,
Ou tudo isso.
(02/04/2004)
18 maio 2007
Segunda pessoa
Não passas disso.
Hesitas...
soltas pequenas farpas.
Sei que dormes mais só do que eu.
E até que tens bem mais do que farpas.
Mas hesitas...
Tens de vergonha e pedrinhas nas mãos.
Te pretendes a que nada quer.
Mas essa tu já não lhe basta.
Tens do pouco que te mostra,
Mas esperas alguem que lhe adivinhe.
Trazes a sede mais placentária.
Altiva em teu trono até o quinto copo.
mas quando pisas a sujeira dos fins de noite,
Sentes que de nobreza a carne morre.
Talvez te arrependas logo depois.
Travesseiros francos lhe cutucam nessas horas.
Antes do amanhã, depois de hoje...
Hesitas.
15 maio 2007
poemas de antes I
Sou Pedra
Não oco,
Maciço.
Difícil de carregar,
Me molda água em milênios...
Sou pedra dura,
Terra futura,
Fogo velho.
(04/01/2004)
11 maio 2007
contraste
Prioridades nada a ver.
Como disse alguem para uma amigo meu:
"Ninguém vai no açougue comprar pepino."
As nossas afinidades continuam aqui e alí,
Esses segredos já não me interessam mais...
Ajudando na medida em que posso me proteger.
Quem divide continua perto.
Continua com as chaves...
A balança da troca é igual a gangorra.
Desequilíbrio vira tombo.
Ou aquele que tá mais leve fica preso lá em cima.
Tem também aquela maldade da porrada no queixo.
De baixo pra cima...
Como tem sido...
Há tempos.
Há tempos e tempos.
09 maio 2007
(Paulinho da Viola e Capinam)
O grão do desejo quando cresce
é arvoredo, floresce
Não tem serra que derrube
Não tem guerra que desmate
Ele pesa sobre a terra
mais que a lei da gravidade,
e quando faz um amigo
é tão leve como a pluma
ele nunca põe em risco
a felicidade.
Quando chegar dê abrigo
beijos, abraços, açúcar
só deseja ser colhido
o desejo é uma fruta,
e com ele não relute
pois quem luta
não conhece a força bruta
nem todo mal que ele faz.
Satisfeito é uma moça
sorrindo, feliz e solta
beije o desejo na boca
que o desejo é bom demais.
05 maio 2007
É preciso perdoar
Você vai me abandonar
Eu sinto que o perdão você não mereceu
Eu quis a ilusão, agora a dor sou eu
Pobre de quem não entendeu
que a beleza de amar é se dar
E só querendo mentir
nunca soube o que é perder pra encontrar
Eu sei... que é preciso perdoar
Foi você quem me ensinou que um homem como eu
Que tem por que chorar
Só sabe o que é sofrer se o pranto se acabar
(Alcyvando Luz e Carlos Coquejo)
27 abril 2007
A lei da compensação
O que é torto será endireitado;
O vazio, preenchido;
O gasto, renovado;
O insuficiente, aumentado;
O excessivo, dissipado.
É por esta razão que
O sábio abraça a Unidade tomando-a por modelo do universo.
Como nunca se põe em evidência, brilha;
Como nunca se vangloria, tem mérito;
Porque nunca luta, ninguém a ele se opõe.
A frase dos antigos dizia: Aquele que é incompleto será completado.
Será uma frase vã?
No fim, tudo retorna à perfeita integridade do Tao.
...
Lao Tzu - Tao Te King.
25 abril 2007
meninos
meninos costumam comer pra peidar na cara dos outros meninos.
meninos também arrotam,
gritam bobagens como quem está declarando a independência da França.
meninos são tão meninos...
bem mais do que as moças.
meninos...
nem sabem onde por as mãos...
meninos...
24 abril 2007
Os sonhos que esqueci nesses anos de eremita...
... ... ... ... ... ...
acho que alguem arquivou pra mim.
ou não foi?
well... foda-se.
Agradeço à aquela foice.
E ao agora,
de dentro pra fora.
ainda tem uns passados podados.
mas agora, olhos de lince.
E luz sem véu.
E tua pele,
e aquela tua pinta.
Esse cheiro leve que me diz que ainda sou jovem.
Os sonhos que tenho lembrado.
Os perdões que tenho distribuido.
Meu sucesso.
Minha luminosidade.
Tudo mais que sempre foi meu e que tava na mão desses invasores de terras.
Não tem mais reforma agrária na minha alma.
Aprendi a usar melhor os pronomes possessivos.
e os silêncios.
aliás, você aí sabe oque é o silêncio?
19 abril 2007
16 abril 2007
Foi-se
Cada flor,
com sua forma, sua cor, seu aroma,
cada flor é um milagre.
Cada pássaro,
com sua plumagem, seu vôo, seu canto,
cada pássaro é um milagre.
O espaço, infinito,
o espaço é um milagre.
O tempo, infinito,
o tempo é um milagre.
A memória é um milagre.
A consciência é um milagre.
Tudo é milagre.
Tudo, menos a morte.
— Bendita a morte, que é o fim de todos os milagres.
(Manuel Bandeira - preparação para a morte)
10 abril 2007
Não.
Ele tem em sido realmente letal, pobres das vítimas.
Não dá para usá-lo apenas para causas nobres.
Não que eu queira relaxar os lastros que me afastam das trevas,
mas também não chega a ser um crime nos armar com o arsenal que temos disponível.
Tenho deixado de lado o maniqueísmo quando faço essa auto-crítica.
A guerra está aí na nossa cara, só não vê quem não quer.
Se me deram esse veneno todo, deve ter um motivo.
Puxar a sardinha pra queimar na minha brasa é algo que eu já devia ter feito desde sempre.
Esse mundo é muito competitivo.
Já desembainhei minha espada.
Não posso deixar que minha generosidade se confunda com fraqueza.
Sugiro cuidado à todos os meus adversários.
Aos meus inimigos, sugiro a rendição.
Eu sou realmente perigoso.
09 abril 2007
É uma coisa muito difícil de fazer, mas quando nos resta alguma força é muito bom ter a consciência clara para que um dia glorioso não se transforme numa noite de derrota humilhante.
Pegue o exemplo do rei Pelé. Alguem chegou a vê-lo em fim de carreira? algum adversário chegou a relaxar em virtude de sua forma física decadente?
Está aí um exemplo de como um rei se recolhe.
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É realmente triste ver a sombra das coisas que amamos, ver que elas são etéreas e que o que nos leva amá-las é um vislumbre instantâneo de algo que nos parece maior que a condição errante do ser humano. Isso raríssimamente é algo além de pura ilusão.
Mas como é difícil essa consciência, como é dificil conviver com o padrão da sacanagem e outros padrões de comportamento obscuro - seja em nós ou no outrem querido.
Como é desgastante enxergar tudo nas sutilezas, conviver com um sentimento de posse ou de arrpendimento, venha ele de onde vier.
Quando a sombra está prevista e a previsão insiste em se confirmar.
Quando a consciência dói de tão clara.
Abdicar dos vícios é necessário. Na situação que se apresenta, qualquer outro movimento significa abdicar do resto das coisas.
Abrir mão é o verdadeiro altruísmo.
Estou farto da previsibilidade que se impõe no fim das socialidades.
Estou farto de prever e confirmar a troca de contatos telefonicos ou digitais, a troca de egoismos, de excessos, de mentiras e de vícios. Tenho certeza que qualquer Dionísio fuleiro receberia o mesmo vulgar serviço, quando um cavaleiro distinto está invisivel pela cegueira da donzela, o resto dos mortais aparecem no mesmo plano. Nobreza ou pobreza não se distiguem.
A verdadeira rainha sabe onde por a mãos e não perde a consciência a ponto de não saber, tambem não adia o momento do recolhimento em virtude de pequenezas. A rainha tem poder pra controlar um reino, porque não teria poder pra controlar a si mesma?
A partida se faz urgente para o moço, o distinto cavaleiro não merece menos do que uma rainha atenciosa e dona de si.
Ele precisa poupar as energias necessárias para a longa viagem.
07 abril 2007
27 março 2007
24 março 2007
Quem não enxerga tem o hábito de atropelar.
Não tenho mais tempo pras surdas...
Quem fala muito, dificilmente ouve.
Não tenho mais espaço aqui...
Esse abrir e fechar de portas....
Que fiquem fechadas então.
Quem muito quer, dificilmente se doa.
Já não posso com esses indecisos...
Hei de impalá-los um dia desses
Alimetando as vespas ao pôr-do-sol.
Sempre tive essa mania de ceder,
Talvez pela minha covardia, minha falta de masculino.
Agora é um escandalo, parece que entrei pro PCC.
ninguem me reconhece mais....
a não ser me comparando com demônios.
Sempre me desculpei pelas explosões,
acabou essa parte.
"Talvez eu seja apenas uma pessoa má." (B.Kiddo)
17 março 2007
Abstinência com rimas paupérrimas
antes de te encontrar.
eu te puxava, te prendia
e depois tinha que soltar.
Me deitava em teu leito
e não deixava levantar.
Me mimava a anestesia
do excesso de te beijar.
Vá se embora minha apatia,
já não posso descansar.
Sem teu cheiro na minha pele...
novidade, respirar.
Já soltei meu verbo à toa,
já dormimos sem sonhar.
Já te quis com mal e tudo,
agora vou me limpar.
15 março 2007
14 março 2007
Trinta raios convergentes unem-se formando uma roda
Mas é o vazio entre os raios que facultam o seu movimento.
Modelai o barro para fazer um jarro.
O oleiro faz um vaso, manipulando a argila.
Mas é o oco do vaso que lhe dá utilidade.
Recortai no espaço vazio das paredes portas e janelas
a fim de que um quarto possa ser usado.
Paredes são massas com portas e janelas
mas somente os vazios entre as massas
lhes dá utilidade.
Desta forma o ser produz o útil
mas é o não-ser que o torna eficaz.
...
(Lao Tse - Tao Te King. XI)
12 março 2007
a hora da sede você pensa em mim
Lá la´iá ....
Pois eu sou o seu copo d’água
Sou eu quem mato a sua sede
Que dou alívio a suas mágoas
( Na hora da sede você pensa em mim )
Na hora da sede você pensa em mim
Lá la´iá ....
Pois eu sou o seu copo d’água
Sou eu quem mato a sua sede
que dou alívio a suas mágoas
É sempre assim você foge de mim
Eu pra você só vivo de água
Mas se a fonte secar voce se acaba
Lá la´iá ...
Você vai , você vem você não me larga
Lá la´iá
Mas se a fonte secar você se acaba
Lá la´iá
Você vai , você vem você não me larga
(Clementina - a única)
23 fevereiro 2007
16 fevereiro 2007
12 fevereiro 2007
03 fevereiro 2007
hipóteses
se resume a sombra da bóia,
somos seres estúpidos tentando
convencer os peixes da ilusão do sol.
Olhando daqui, o barulho do submerso
parece uma furtividade na porta da cozinha.
A introdução da minha existência já se alongou por demais.
A miragem se aproxima.
sinto você indo.
O amanhã.
29 janeiro 2007
25 janeiro 2007
20 janeiro 2007
É como me descreveria agora.
Esses segredos que presumo no silÊncio, me angustiam na proporção exata que me sinto exposto, nu, indesejável...
Talvez devesse me fazer mistério. não aquele intocável mas o forçoso, o que seduz.
Me afogo nessa salmora que fabrico. farejo saudades de outras épocas na ficção.
Raramente choro.
Nunca choro por pouco.
Penso demais, não há duvida.
mas aprendi a amar oque sou. não se trata de recuperar a auto-estima mas de viver o auto-amor.
Admiro essa consciÊncia que me fode,
que vive a me foder.
e que não goza.
Mas isso só disso, sem molho, cansa.
Pensar demais enlouquece.
E temos muito mais problemas além desses.
As vezes oque me consola é saber que o consolo que não tenho não passaria de mais uma anestesia.
fabricada.
mais ou menos duradoura.
ainda assim, queria o outro.
queria a ignorancia. queria inconsciÊncia.
mostra teu sangue agora.
ou então,
vou me vestir.
18 janeiro 2007
11 janeiro 2007
10 janeiro 2007
Bem vindo à São Paulo
Carro pega fogo e causa uma morte na Marginal Tietê, em SP
Incidente bloqueou a via expressa após as 17 horas
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SÃO PAULO - Um carro pegou fogo e deixou um morto e três feridos na tarde deste domingo na pista expressa da Marginal do Tietê, sentido Penha Lapa, próximo à Ponte Tatuapé, em São Paulo.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o acidente aconteceu por volta das 17 horas. O veículo incendiado e as viaturas dos bombeiros bloqueavam totalmente a via no final da tarde, onde o trânsito está complicado, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).