24 junho 2010

Uma brisa leve numa pedra dura é uma benção.
Planta semente de fruta doce na dureza impenetrável.
Traz o novo sem querer, sem nomear, sem dó, sendo.
Não tem origem que se ache, é vinda de toda parte.
Segue o voô sem saber que pedra amoleceu, fertilizou.
Experimenta o chão nesse broto sedento.
Ela adora essa pausa.
A pedra não é só
e em silêncio, agradece.

19 junho 2010

Tem dia que é de matar
e tem dia que é de morrer.
Não tenho dia pra viver
em paz.

Tento me pacificar em vida
Mas não tenho sorte.
Só há paz na morte.
Bem resolvida é uma sepultura florida.

10 junho 2010

Pano de toureira

Quando me diz que vem
Me consumo na dúvida, expectador.
Tô perdido no teu balanço
Mas nosso encontro sabe chegar.

Te disse que não ligo pra ausência,
Que não detesto distância.
Que agonizo mais acima,
No tempo que se perde disso.

Sei que tive ontem errado,
Te olhei e vi menina
Em noite de cegueira quase plena.

Tenho hoje só cotidiano,
com você na noite em claro,
Hei de ter amanhã certeiro.
e tudo é alguma coisa.

e oque

e oque tenho pra amanhã
é uma casa vazia.
e oque sobra no fim
é sem mistério.
e oque morre depois
é esperança.
e se chegar a ser nada,
é intervalo de algo.

03 junho 2010

Eu aposto
Que você tem certeza de uma coisa
Que eu tenho certeza
Que não

Minha poesia consiste
em subdividir certas frases
em mais linhas do que o necessário,
desperdiçando papel.

diz que não.


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"Não vou gostar de quem não gosta de mim"
Isto tem um probleminha no fim.
"Só vou gostar de quem só gosta de mim"
é caso sério, bem mais sério, sério sim.

Porque daqui a pouco
Se ninguém gostar de mim
condenado eu estaria
a não gostar de ninguém mais.

é necessário nesse mundo dar um tempo,
até sem tempo pra poder gostar de alguém.
é necessário nesse plano ter um tempo,
pra gostar de quem não gosta de ninguém.