21 novembro 2009

Dia da consciência

Vivi minha jaula hoje.
Meu cordão de isolamento.
Tentei participar mas não foi possível.
Todo tempo e energia foram gastos na vigília dos meus bolsos vazios de dinheiro.
A toda hora tinha alguém metendo a mão ou então um daqueles vários esbarrões maliciosos.
Uma senhora de uns setenta anos quase me levou esse caderno, tentou três vezes até que a empurrei sem muita força... de qualquer forma, não lhe serviria de nada.
No balanço, não me levaram nada além do gozo que não tive, da festa que não vi e da música que não dancei.
Talvez tenha sido muita audácia querer participar do dia da consciência negra junto com os negros mas a porrada da verdade ainda está me doendo.
Único branco até onde minha vista alcançava naquela multidão negra, senti a escrevidão na pele... Quando as grades são invisíveis é quase impossível arrebentar os cadeados.
Tentei enxergar até onde ia minha isenção mas acho que minha miopia não permitiu.
Lá pelas tantas, desisti, peguei um taxi e voltei pra senzala dos gringos, essa sim bem definida com grades e policias.
Não julgo os motivos e nem estou procurando culpados, eu já deveria saber que aquela rua não era minha e os camarotes muito menos.
“Adequado” é um adjetivo que nunca me serviu.

Nenhum comentário: